O QUESTIONAMENTO SOCRÁTICO: O que é?

Introdução:

As crenças centrais são ideias que formulamos sobre nós mesmos, os outros e o mundo e podem ser negativas ou positivas, e que formulamos por meio de nossas experiências ou das representações das nossas experiências, e muitas vezes são tidas como verdades absolutas.

Crenças tais como sou inútil, sou burro, sou um fracasso ou isto não é para mim, podem impactar no comportamento, na vida pessoal, ou profissional das pessoas.

Exemplos com diagramação:

                                               [Crenças sobre Incompetência]

                   ↙                                                                                                                                                                          

[Baixo nível de realização]                                                                    [Previsões de falha]      

                                                                                                                                                                            

                  ↑
         ↧

 


[Insucesso]                                             ←                          [Não-envolvimento em tarefas difíceis]

 

Novas estratégias:



                                                          [Crenças equilibradas sobre si]

                             ↙                                                                                                        ↘


[Nova aprendizagem]                                                                                                  [Reavaliação Cognitiva]

                                                                                                                                  ↓

                       ↑

[Possível experiência de sucesso]                    ←                  [Experimento comportamental – aplicar a Reavaliação na Situação]

 

1-) Autoconsciência de certos pensamentos:

1.2) Caso certos pensamentos ocorram, tentar determinar, qual era o contexto da situação, o que tinha acontecido antes, e como entender ou avaliar este pensamento.

Ex: o que estava acontecendo na sua cabeça antes de ficar chateada?

O que você estava dizendo a si mesma?

O que estava pensando que iria acontecer?

 

 

 

1.2-) Autoconsciência de certas emoções:

Em certa situação na qual a pessoa tenha ficado chateada, em que pensamentos ruins apareçam, aconselha-se identificar o que estava sentindo, ou mesmo ter consciência de certas emoções básicas (raiva, medo, felicidade, tristeza e surpresa).

Aumentando a autoconsciência das emoções e ajudando a contorná-las, é uma forma de avaliar como o racional e o emocional estão interligados e de que maneira, isto pode ser auxiliado com um bom manejo ou entendimento das emoções.

Exemplo: Num dia em que tenha havido uma discussão no trabalho, desentendimento no relacionamento ou familiar, um paciente que acreditava estar livre da depressão, pode acordar desmotivado ao seguir com a sua rotina no dia seguinte. Pensamentos do tipo “será que isto nunca irá passar, nunca ficarei saudável, é melhor parar com o trabalho, divórcio e etc?”

Figura abaixo: exemplo de como um estado de humor depressivo, após um dia ou um incidente negativo, pode influenciar:

            ↘
                                                               Estado de Humor Depressivo

 

 Fortalecimento das crenças negativas                    Ruminação sobre a situação/catastrofização


 


                                                                                                                                             

 

Filtragem depressiva e abstração seletiva                     ←                       Memória autobiográfica do que ocorreu no dia anterior/ pensamentos de que as coisas não irão melhorar



 


                                                              

 

 

Falta de informações refutatórias para

                                                               Reavaliar a situação

2-) Filtros cognitivos:

Uma pessoa que tenha tido uma experiência negativa com determinada situação, e que por exemplo, tenha criado uma crença distorcida acerca do que aconteceu:

2.1) Numa reunião da empresa, ao palestrar sobre um assunto, senti uma ansiedade alta, e gaguejei durante alguns momentos e errei alguns temas. Me senti envergonhado e acredito que todos pensaram que sou um impostor:

R: Neste caso, o que significa ter uma ansiedade mais alta do que o normal, que poderia acontecer naturalmente, e cometer alguns erros? Você conhece alguém que nunca tenha errado?  Logo, você não poderia ter errado assim como qualquer outra pessoa?

Rº2: Evidência real x percebida: O que você deduziu desta experiência na qual acreditou ter sido visto como um impostor por conta um erro. De fato, alguém te disse algo parecido? Como você presume que as pessoas da reunião te avaliaram negativamente? Não foi o seu olhar autocrítico dirigido a si mesmo, por conta de um ideal de performance perfeccionista?

 

 

3.) Crenças Limitantes ou disfuncionais

Muitas vezes nossos pensamentos disfuncionais aparecem por conta de Crenças, que formulamos em certa etapa da vida.

3.1-) Um paciente que tem dificuldade em lidar com as emoções, pelos seguintes pensamentos:

R: se eu aceitar tristeza ou medo, significa que sou fraco. Portanto, se evitar os meus sentimentos, nunca me sentirei fraco.

Esta crença pode ser mudada pelo seguinte motivo: o que haveria de errado em aceitar os sentimentos? Caso você entenda que a tristeza também está tentando te dizer algo, por que não entender o motivo e se validar? Quais os pensamentos que identifico com esta tristeza? Por qual razão estou sentindo isto? Então, meus sentimentos significam fraqueza ou que por alguma razão preciso me conectar com o motivo da tristeza, validar o que estou sentindo e talvez modificar uma forma negativa pela qual estou lidando com meu interior?

3.2-) Se eu disser às pessoas o que quero me sentirei fraco, mas se guardar para mim, não terei prejuízos.

R: Mas se, caso diga, às pessoas o que quer, não seria mais fácil que elas o entendam ou que possam te auxiliar no processo do que busca? E, não seria uma ocasião de se conectar com as pessoas em relação à uma abertura de comunicação?

4.) Empirismo colaborativo como passo para identificação dos “Pensamentos Quentes” para a reavaliação e modificação:

Muitas vezes as pessoas conseguem sucesso no trabalho, esportes, cultuam um patamar de uma vida ideal, mas se sentem mal sem um “motivo aparente”. Neste caso, por mais que tenham sido avaliados os pensamentos automáticos, há certos tipos de pensamentos que causam sentimentos mais negativos, os denominados “pensamentos quentes”. Estes pensamentos negativos, têm um certo significado ou são gatilhos para despertar certos sentimentos.  No caso, por exemplo de pessoas que atingem seus objetivos e metas, tendo conquistado o que almejaram, ou o “sonho da vida”, mas que, em um determinado momento, entram em depressão, ou ansiedade alta, burnout e etc, podem pensar:

“O que as pessoas que me admiram pensariam de mim?”

“Se faço tudo para ter uma vida perfeita, porque deveria ter estes sentimentos?”

“Se as pessoas conhecessem meu verdadeiro eu, iriam me rejeitam ou se afastar de mim”

“Há algo errado comigo! Não é normal se sentir assim”

Pode-se, através da compreensão de como a pessoa se desenvolveu, de como foi a sua vida, o porquê de certos pensamentos ou sentimentos ocorrerem.

Ex: uma pessoa que, devido a uma má relação com os pais, pode ter desenvolvido vergonha, raiva ou aprendido a esconder seus sentimentos ou que era errado senti-los, pois precisava ocultar. Assim, num período da vida em que muitas coisas estejam boas, mas que há um ou outro conflito, certos sentimentos negativos aparecem, e a pessoa desconsidera os outros elementos positivos, focando apenas no que acontece de negativo, o que potencializa o sentimento.

Outro caso é de que, alguém tenha passado por uma experiência ruim com os seus pais ocultando raiva e vergonha, e assim ter passado a adotar uma postura de sublimar seus sentimentos, tentando ser “perfeito”, pode não lidar muito bem com o retorno destes sentimentos numa situação em que tudo deveria estar perfeito, por ter acreditado ter se tornado uma pessoa perfeita e não ter cometido os mesmos erros. Desta forma, depressão, raiva, ansiedade e vergonha que estejam acontecendo em decorrência de alguns fatores negativos, podem fazer com que esta pessoa desconsidere outros elementos positivos da sua vida, por achar tais sentimentos não seriam certos ou mesmo por não ter ferramentas para lidar com eles.

À medida que a pessoa passa a ver que não é a única que se sente assim, e que todos os seres humanos têm sentimentos semelhantes, pode ser o início a aceitar que não há perfeição na vida. Aconselha-se à pessoa ver o contexto histórico, outros fatores que não estejam sendo relevados e etc . Abaixo, uma tabela conceitualizando este processo:

 

Focalização: O que estou sentindo? Quais as diferentes partes do problema? Qual a parte mais perturbadora e o que atribuo disto?

Compreensão: Faz algum sentido que eu pense assim? Onde eu aprendi que não posso ter este pensamento? Isso é algo que já me foi dito antes? O que me leve a crer (evidências) que isto seja verdade? O que este pensamento me faz sentir?

Curiosidade: Quais são os fatos que me dizem que isto não pode ser verdade? O que estou perdendo quando foco apenas nesta questão? E o que eu não sei? Há alguma exceção nisto?

Resumo: como posso resumir toda a história?

 

Síntese: Como esse resumo se encaixa com minha primeira crença? Como isso se encaixa com o que eu realmente digo a mim mesmo?

 

Conclusão: qual seria a evidência mais equilibrada e crível? Como posso aplicar essa declaração à minha próxima semana?

 

4-) Distorções e crenças irracionais

Existe uma série de crença irracionais que impactam tanto na percepção, quando no modo como a pessoa lida com a vida:

Processos de Pensamento:

Descrições:

Erros na previsão

Exemplos: catastrofização, previsão ou viés de impacto:

Descrição: erros na previsão de resultados ou impactos que não podem ser conhecidos /A pessoa pode deduzir, de uma ocasião, um impacto que supostamente poderia perdurar por toda sua vida (demissão, etc).

Erros na generalização excessiva:

Pensamentos “tudo ou nada” generalização excessiva e ampliação. Ex. pensamento que tudo tem que ser de um jeito ou do outro, foco num evento como algo extremamente ruim e ampliação de um fato negativo, como tendo sido maior do que foi.

Erros nas percepções:

Abstração seletiva, filtro negativo, leitura mental e personalização. Ex: focar somente um elemento negativo, filtrar um evento apenas de forma negativa, desconsiderando o restante, presumir o que as pessoas pensam de você.

Ilusões de controle:

Pensamento mágico, ilusão de controle e viés de retrospectiva. Ex: a pessoa acreditar que tem um poder que não tem, superstição em excesso ou algo do tipo.

Crenças centrais irracionais:

Exigências absolutistas (tenho que fazer isto, não posso deixar para depois), Catastrofização (tendência a julgar algo como ruim ou criar o pior cenário mental de algo negativo que tenha ocorrido numa situação em específico), Intolerância à frustração (irritar-se demasiadamente diante de um erro), Avaliação pessoal: tendência a julgar a si mesmo da pior forma possível.

 

 

Por fim, este artigo, serve para explicar certos tipos de uso do questionamento socrático, e como seu uso pode impactar positivamente para descontruir crenças negativas, modificar padrões de comportamento, formas de entender os sentimentos e pensamentos, e melhorar a vida uma pessoa com dificuldades, através de uma análise de suas crenças e maneiras de lidar com algo que esteja acontecendo no presente, mas que tenha influência das experiências passadas.

20/11/2025

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